A melodia da Amizade
Na pequena e verdejante aldeia da Colina Verde, onde os rios cantavam e as árvores dançavam com o vento, vivia um jovem pirilampo chamado Luzin.
Ao contrário dos seus amigos, que brilhavam com uma luz amarela e constante, a luz de Luzin era especial: piscava em tons de azul, verde e, por vezes, até um rosa suave. Esta diferença, que a sua avó carinhosamente chamava de “coração de arco-íris”, nem sempre o fazia sentir-se especial.
Na verdade, sentia-se um pouco sozinho.

Durante as brincadeiras noturnas, como o jogo da apanhada cintilante, os outros pirilampos tinham dificuldade em seguir o seu brilho inconstante. “Luzin, assim não conseguimos ver-te!”, diziam eles, rindo, mas Luzin sentia uma pontada de tristeza. Ele tentava com todas as suas forças brilhar apenas em amarelo, mas o seu coração de arco-íris era teimoso e insistia em mostrar todas as suas cores.
Um dia, chegou à Colina Verde uma nova família de insetos: um grupo de grilos músicos, conhecidos por criarem as mais belas melodias da floresta. Entre eles estava Grito, um jovem grilo cujo cricrilar era diferente. Em vez do som agudo e rápido dos outros, o seu era grave e lento, quase como o pulsar de um tambor.
Tal como Luzin, Grito sentia-se deslocado. Os outros grilos tentavam acompanhá-lo, mas o seu ritmo era tão único que acabavam por se atrapalhar.
Numa noite quente de verão, enquanto os outros pirilampos brincavam e os outros grilos ensaiavam um concerto, Luzin e Grito encontraram-se junto ao Lago Espelhado. Luzin piscava as suas cores tristes na água, e Grito suspirava um cricrilar melancólico. “A tua luz é tão bonita”, disse Grito, de repente. “Parece uma canção de cores.”
Luzin ficou surpreendido. “A sério? Todos dizem que é confusa. E o teu som… é tão profundo e calmante. Nunca ouvi nada assim.”
Foi então que tiveram uma ideia brilhante. E se juntassem as suas diferenças? Grito começou a tocar o seu ritmo lento e grave, e Luzin, inspirado pela melodia, começou a piscar as suas luzes em harmonia com o som. O azul brilhava nas notas mais profundas, o verde nos tons médios e o rosa nos momentos mais suaves. Juntos, criaram um espetáculo de luz e som que a Colina Verde nunca tinha visto.

A música e as cores flutuaram pela aldeia, atraindo a atenção de todos. Os pirilampos e os grilos aproximaram-se, maravilhados. O ritmo de Grito, que antes parecia estranho, agora era a base perfeita para uma nova melodia. E a luz de Luzin, que parecia inconstante, transformou-se na alma visual daquela canção mágica. Os outros pirilampos começaram a piscar em resposta, e os grilos a cricrilar em novos ritmos, inspirados pela dupla.
Aquela noite marcou o início do Festival das Luzes e dos Sons, uma celebração anual onde todos os habitantes da Colina Verde partilhavam os seus talentos únicos. Luzin e Grito tornaram-se os melhores amigos e os maestros da festa, mostrando a todos que a verdadeira harmonia não vem de sermos todos iguais, mas de celebrarmos a beleza das nossas diferenças.
Moral da história: A nossa singularidade é um presente. Quando a partilhamos com os outros, criamos algo muito mais belo e forte do que poderíamos imaginar sozinhos.

Perguntas para conversar em família:
1.O que tornava o Luzin e o Grito diferentes dos seus amigos?
2.Como é que eles transformaram as suas diferenças em algo positivo?
3.Lembras-te de alguma vez em que te sentiste diferente? Como foi?

Autor: D. Margarida Fontes